Talvez você tenha um jovem empreendedor em casa

Quantos de nós quando crianças somos incentivados a empreender? Acredito que muito poucos e pelo que vejo, apesar da disseminação da importância do empreendedorismo, o quadro não se reverteu.

Sou uma das palestrantes contratadas pelo Sebrae-SP para divulgar o Programa Desafio Sebrae que é um jogo de empresas virtual, por isso nas últimas semanas tenho percorrido algumas universidades e quando pergunto quem gostaria de ser dono de sua própria empresa, poucos levantam a mão; quando pergunto quem quer ser empregado, a maioria; mesmo sabendo, da dificuldade na obtenção dos empregos dos sonhos.

E a história é sempre a mesma, pais que insistem em dizer para seus filhos: “estude bastante para conseguir um bom emprego ou passar em um concurso público”.

Quando estava elaborando a palestra, fiquei pensando em como incentivar esses jovens a se tornarem empreendedores, seguir uma opção de carreira diferente: empreender; já que eu apesar de ser dona do meu próprio negócio, nunca tive incentivo para isso nem durante minha infância, nem em minha adolescência. É claro que, quando decidi, já adulta, oficialmente abrir minha própria empresa, meus pais foram os maiores incentivadores, apesar de temerosos em relação ao meu futuro, torceram pelo meu sucesso.

Fiquei sentada em meu computador, relembrando minha história e de minha família. Lembro que muitas pessoas me perguntam se vim de família empreendedora e sempre respondi que não, baseada na vida de meus pais. Meu pai foi funcionário de uma empresa por 35 anos e minha mãe, dona de casa. Mas, comecei a resgatar a história de meus avôs e avós e vi o quanto empreendedora foi a vida de minha família.

Meus avôs vieram do Japão, um foi taxista, uma micro empresa de um funcionário… nunca teve carteira assinada e assim, cuidou de sua família. Meu avô paterno trabalhou na roça, comprava insumos, plantava e vendia, enfim, uma empresa familiar de agronegócio. Minhas avós eram filhas de japoneses, porém nascidas no Brasil; uma teve uma quitanda, a outra um barzinho. Lembrei que minha mãe, apesar de depois de casada, nunca ter tido um emprego, foi uma empreendedora.

Foi costureira, fez salgadinhos e docinhos para festas (como minha irmã e eu esperávamos sobrar algo para saborearmos), fez bolos maravilhosos e por último, montou uma pequena confeccção de lingerie (meu pai até aprendeu a costurar, pois como ela não dava conta das encomentas, ele voltava da empresa e a ajudava) e até deu aulas de como confeccionar as lingeries.

Enfim, hoje posso afirmar que vim de uma família mais que empreendedora. Pessoas de coragem e lutadoras que trilharam seu próprio caminho.

Também existe outra pergunta que me fazem: “quando você resolveu empreender?”. E sem titubear, eu respondia: “quando estava com 25 anos de idade”. Pois é, mas eu descobri que, na realidade, comecei a empreender muito cedo.

Com 7, 8 anos, minha irmã e eu montamos nossa primeira empresa, produzíamos pulseiras personalizadas com o nome do cliente. Fomos uma empresa inovadora, já nos preocupávamos com a reciclagem de materiais, utilizávamos como base o plástico do potinho de iogurte e linhas que minha mãe não utilizava mais. Mas, acredito que sobrecarregamos o mercado formado por tias, primas e coleguinhas da escola e chegou o momento de encerrarmos nossas atividades.

Quando tinha entre 13 e 14 anos, fui convidada para participar de uma empresa de Tradução e Editoração pelo meu amigo Altamir. Ele foi o comercial que captou a oportunidade de um grupo de estudantes de Medicina da UMC que precisavam que fosse traduzido um texto enorme e depois fosse datilografado, o termo Editoração ainda nem existia, pois computador era algo pouco acessível, então, utilizei minha velha máquina de datilografar. Foi uma empresa de um único cliente, até hoje não sei se foi porque não ficaram satisfeitos ou não tiveram outros trabalhos.

Depois, na época do curso técnico com 16 anos, algumas amigas e eu abrimos uma empresa de Comércio Alimentício, nossos carros-chefe eram os bombons Sonho de Valsa e as balas Skate, precisávamos de dinheiro para a formatura. Nesse momento, conheci o que se chama de concorrência, era a tia da cantina que ficou muito brava por vendermos nossos produtos dentro da escola. Além disso, também conheci o que depois vim a ter maior intimidade, a inadimplência, como eu era do financeiro e de compras, eu tive que aprender a cobrar.

Na mesma época, abrimos mais um negócio, uma empresa de eventos. Promovemos um dos primeiros bailes pró-formatura da cidade e que foi um sucesso, afinal como empreendedores ousados e inovadores colocamos o nome de NOITE DA ALTA TEnSÃO. Talvez, você nem possa imaginar a repercussão que teve com esse nome, faltaram convites e ganhamos um monte de dinheiro. Foi um negócio tão bom (só que ninguém disse isso para nós e nem tivemos essa percepção) que alguns professores assumiram o negócio e deram continuidade.

Mas, tinha chegado a hora de fazer escolhas, e meus pais, como tantos outros, me incentivaram a estudar, cursar a universidade e não sei se por sorte ou azar, consegui no primeiro ano da faculdade, o emprego dos sonhos de vários jovens na maior empresa da região.

Depois de 5 anos, passei no processo de trainee da Brahma e fiquei por lá por mais 2 anos. Em 1997, meu noivo que hoje é meu marido abriu uma empresa de informática e fui trabalhar com ele e nesse momento, acabei resgatando minha veia empreendedora que nunca mais abandonei e que tanto me orgulho.

É claro que em alguns momentos, penso o quanto vale a pena o que escolhi, mas no final de 2006, tive a certeza de minhas escolhas. Meu pai que já estava aposentado há alguns anos, sabia que ao completar 60 anos, deveria sair da empresa onde trabalhou por 35 anos, apesar de sua competência e vitalidade e foi nesse ano que foi dispensado com festas e homenagens, mas com uma profunda lembrança de que com 60 anos é considerado velho para as empresas.

Nesse momento, tive a consciência de que tomaram a decisão pela vida de meu pai e prometi que não deixaria que ninguém fizesse isso por mim. Espero que com 60 anos, eu esteja trabalhando menos, mas ainda ativa ou então, se eu decidir apenas curtir a vida, a decisão será apenas minha.

Também sou mãe e acredito que está nas nossas mãos em incentivar os jovens empreendedores que muitas vezes se encontram dentro de nossa própria casa para que possam tomar melhores decisões, guiando sua própria vida e se tornando pessoas mais completas e felizes.

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3 comentários sobre “Talvez você tenha um jovem empreendedor em casa

  1. Realmente! Os jovens não são incentivados a empreender desde cedo. Pois se fossem, a realidade social e econômica seria outra. Eu por exemplo, nunca fui incentivado na escola e nem na família. Pelo contrário! Me diziam que era melhor estudar para concurso e melhor emprego. Pois bem, estudei consegui bons empregos com salários que nem professor e médico com suas graduações recebem. Mas eu queria algo mais importante que salário e “estabilidade”. Eu queria liberdade! Além disso eu não gostava de pegar transito, cumprir horário, ver empresa e chefe crescer e eu ficar na mesmice. Ganhando fixo e com descontos e mais descontos. Não tinha facilidade para ir ao médico, estudar, resolver as minhas pendencias de banco e outras coisas pessoais. Tinha que ficar me justificando e/ou ter que avisar com muita antecedência. Mas sempre fui um profissional exemplar, era premiado e tudo. Mas, após trabalhar na última empresa, eu tive uma visão de mercado baseada nos erros e na carência do mercado em que a empresa que trabalhei estava participado. Sempre ouvia as reclamações dos clientes e anotava. Sabia da solução que quando eu apresentava, não davam a mínima. Depois de quatro anos e meio eu decidi sair e muitos me apoiaram e outros me achavam muito louco em deixar um emprego com um salário tão bom para partir para algo que só existia em minha cabeça. Fiz os meus cálculos de quantos meses deveria ficar com um saldo positivo para pagar o aluguel e as minhas despesas pessoais, renegociei minhas dívidas no banco e cartão de crédito, paguei tudinho e deixei o nome limpo. Quando cumpri tudo isso, fiz as pesquisas de mercado, analizei o potencial dos concorrentes e da empresa que eu ia deixar e pedi as contas. Eu abri mão dos 40% e fiquei com o FGTS e seguro desemprego que ajudou muito. Não foi fácil esta negociação que a princípio me deram justa causa, mas eu negociei com o próprio setor jurídico da empresa para reverter e consegui. Comprei os móveis de meu escritório tudo a vista e fiz aliança com os meus fornecedores que também fornecem para a antiga empresa. Obtive um bom retorno destes fornecedores que me deram confiança mesmo com o meu CNPJ novo com menos de um mês de inscrito. Fiz parceria com os transportadores, motoboy’s e clientes que conquistei naquele tempo. Hoje colho bons frutos, me mantenho sem stress, sem transito, sem metas absurdas e pesadas, sem reclamações sem fundamento, sem cobranças, sem horários fixos, sem dificuldades financeiras, tenho liberdade para fazer o meu plano de negócios e minha agenda. Meus clientes estão super satisfeitos com as minhas idéias que antes eram rejeitadas pela empresa que trabalhei. Hoje sou feliz com o que faço e com o que ganho. Hoje posso dizer que sou bem sucedido graças a Deus!

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